Deploy na Sexta #002: Quase sênior em 2 anos
É sobre remuneração, tempo ou habilidades?
Após dois anos de gloriosa batalha nos campos infindáveis de bugs dos sistemas legados, e tendo acabado de concluir minha faculdade e meu primeiro módulo fiscal sozinha, eu estava convencida de que tinha dominado o C#. Eu me sentia uma verdadeira sacerdotisa do software, pronta para assumir o título de desenvolvedora sênior.
Marquei uma reunião com o dono da empresa que tinha minha idade em carreira na programação, decidida em convencê-lo a atualizar meu título, afinal, eu havia desenhado, planejado, desenvolvido e implantado um software.
Bem, o resultado da reunião: eu fui parabenizada pela dedicação e promovida, o novo título era; júnior 2.
Hoje, ao revisitar os primeiros códigos que desenvolvi de forma independente, é nítida para mim a falta de maturidade técnica, bem como o repertório limitadíssimo em arquitetura e design de software que eu tinha na época. Deixei aquela empresa um ano após, mas tenho convicção de que o projeto que eu trabalhava não sobreviveu muito. Além disso, sinto um alívio por não precisar mais mexer nesses códigos antigos.
Foi ego grande demais em pedir para ser sênior tão cedo?
Não, tem uma teoria que diz que esse “surto de autoestima” é uma tendência cognitiva natural. Ousei resumir o Efeito Dunning-Kruger:
Quando começamos a aprender sobre um novo tópico, é comum sentir uma confiança baseada em nosso conhecimento limitado.
A medida que adquirimos uma base de conhecimento sobre o assunto, a confiança inicial vai se perdendo. Agora é a fase que fica clara a ignorância inicial e o mar inexplorado de tópicos na tecnologia.
Para realmente compreender essa ignorância e sair do desespero, precisamos avançar nos estudos, ir além do superficial, aprendendo não apenas os fundamentos, mas também o que constitui verdadeira competência na área.
No final das contas, percebemos ser um processo contínuo. Quanto mais aprendemos, mais entendemos que sempre terá mais para aprender.
Desenhei um gráfico para tentar ilustrar:
Calma aí! Eu não estou dizendo que todo sênior de 2 anos está no “pico da estupidez”. To só contextualizando a minha situação na época. 👀
Como eu lido hoje com senioridade na tecnologia?
Para ser sincera, depois desse acontecimento, meu foco nunca mais foi o título, mas sim remuneração e ter clara minhas responsabilidades. Também entendi que a senioridade técnica é bastante relativa e varia muito de empresa para empresa. No entanto, um parâmetro que é senso comum para medir a senioridade em qualquer discussão é a autonomia.
Autonomia para mim é a capacidade de um profissional tomar decisões independentes e gerir suas responsabilidades sem necessidade de supervisão. É a liberdade para conduzir seu trabalho, escolher as melhores práticas, ferramentas ou métodos para resolver problemas e alcançar objetivos.
A amiga Engenheira Coelho ilustrou de uma forma muito legal a definição de autonomia e senioridade:
Trainee/Estágio: Tem pouquíssima autonomia e depende significativamente da orientação. Está comprometido principalmente com o aprendizado; as responsabilidades são pedagógicas e a influência se limita ao seu desenvolvimento e adaptação ao novo ambiente de trabalho.
Júnior: Trabalha sob supervisão e orientação próximas, focando em aprender e aplicar conhecimentos técnicos específicos, influenciando principalmente nas tarefas que lhe são designadas.
Pleno: Tem autonomia para tomar decisões relacionadas a tarefas maiores e consegue planejar e executar componentes inteiros de um projeto, começa a liderar iniciativas menores e colabora diretamente no planejamento.
Sênior: Tem autonomia para moldar práticas, estabelecer padrões técnicos, mentorar outros membros da equipe e tomar decisões estratégicas. É responsável por uma visão holística do projeto e pelo seu alinhamento com os objetivos da empresa.
Staff: Influencia toda a empresa. Sua autonomia permite que tenha um papel significativo nas decisões de alto nível que definem a direção tecnológica da organização. Pode ser responsável por estratégias técnicas de longo prazo, inovação e liderança em várias equipes ou departamentos.
Quero ser mais sênior ou só quero um aumento? 🤔
Muitas vezes, só queremos um aumento salarial. Com o mercado aquecido, já passei por momentos onde a média salarial do mercado era maior que a que eu recebia. Eu só queria um reajuste, fui promovida no momento errado e surtei.
A senioridade, vem carregada de responsabilidades e um peso maior em termos de tomada de decisões e liderança. Antes de pedir para ser sênior, é importante pensar se estamos prontos para os desafios, e não apenas em termos de habilidades técnicas, a saúde mental e o bem-estar também devem ser considerados. Maior nível de responsabilidade = maior carga de estresse.
Essas definições fizeram sentido para ti? Será que estou viajando na maionese? Bora debater nos comentários.
🧠 Exercício da Semana
Desenvolver autonomia é um processo que envolve autoconhecimento, confiança e a habilidade de tomar decisões e agir de forma independente. Separei alguns tópicos para ti exercitar na hora de resolver uma tarefa e ir desenvolvendo a autonomia:
Entenda o Problema: Certifique-se de compreender totalmente o problema antes de tentar solucioná-lo. Faça perguntas, desenhe diagramas ou explique o problema para outra pessoa.
Pequenos Passos: Divida problemas maiores em partes menores. Resolva cada parte uma de cada vez. Isso não só facilita encontrar uma solução, mas também ajuda a tomar decisões.
Pesquise Opções: Veja como outros resolveram problemas semelhantes. Olhe para código de outras pessoas, leia documentação e tutoriais para entender diferentes abordagens.
Analise Prós e Contras: Para cada opção de solução que tu encontrar, liste os prós e os contras. Isso pode incluir considerar a eficiência, a facilidade de implementação e a manutenção a longo prazo.
Decida, Valide e Comprometa-se: Após analisar suas opções, faça uma escolha, apresente-as para o time, e comprometa-se com ela. Lembre-se, raramente existe uma única “resposta certa” na programação.
Aprenda com o Erro: Se a decisão não resultar como esperado, veja isso como uma oportunidade de aprendizado. Avalie o que deu errado e por que, para tomar decisões melhores no futuro.
Para dar risada. O André Noel do Vida de Programador ilustra histórias engraçadas e curiosas do dia a dia de quem trabalha com programação, se liga nessa tirinha sobre senioridade:
💡Indicações
Dragon Ball Z Kai: Essa semana foi intensa no trabalho e eu só queria assistir algo leve antes de dormir. Essa é a versão remasterizada de comemoração de 20 anos de Dragon Ball Z. Inclusive a Bulma é a personagem feminina mais importante da série e também musa da tecnologia, ela quem criou o radar do dragão e a Máquina do Tempo.
Action figures: Se tu curte decorar o setup, espia a Hype Colecionáveis meu amigo Marllon faz um trabalho incrível. Ele é responsável pela criação da Bulma e outras figures que decoram minhas prateleiras.
🗓️ Próximos eventos
09/11 The Developer's Life Weekend: Um evento para todos os públicos de tecnologia com palestras e workshops.
13/11 Imersão Gratuita da Alura: 5 aulas gratuitas para você aprender programação, começar um portfólio na área.
Nossa comunidade tem um Grupo no Whatsap e no Telegram onde compartilho eventos de tecnologia, oportunidades, cupons de desconto e tudo que encontro que possa somar.
Já que tu leu até aqui, sabia que temos recompensas por indicação? Indique o "Deploy na Sexta" para mais pessoas e garanta uns brindezinhos que pensei com muito carinho.
Essa é a minha primeira newsletter e tô super ansiosa pra saber o que tu achou. Não vou levar pro lado pessoal, então manda a real. Tá show? Tá meia-boca? Tem algo que você gostaria de ver por aqui? Quero muito saber a tua opinião. Manda lá pra comunidade@spacecoding.dev com o título: Feedback.
Nos encontramos no próximo deploy, sexta às 6:00.
Feedback: obrigada por compartilhar suas experiências conosco! Sou Dev Jr há 2 anos, mas desenvolvo há 1. E uns tempos atrás me perguntaram o que eu achava sobre ser promovida a Pleno. Disse que não era o momento. Que eu tinha muita coisa para aprender e estudar. Eu fiz mudança de carreira, e no meu primeiro ano como Dev foi muito pesado (eram muitas informações de todos os lados o tempo todos). Eu sei reconhecer quanto estou pronta para dar o próximo passo e sei das responsabilidades que ia traz. Fui ouvida nos meus argumentos e entenderam. Porém me falaram que não vou ser Jr pra sempre. Quando o dia chegar, que eu esteja mais preparada do que você ou ontem.
Sua descrição para cada nível foi incrível, consigo ver o meu reflexo no papel de Júnior, de alguém que tem muita vontade de aprender, mas que na minha opinião, o trabalho tem agregado poucos conhecimentos.
Hoje sou Q.A Júnior, mas penso muito em migrar para Dev, a empresa em que trabalho hoje, as demandas da área de Negócio muitas vezes não priorizam a oportunidade para eu desenvolver essa habilidade, faço sempre uma avaliação prévia antes de começar testes manuais e como eu poderia aplicar uma automação nessas rotinas, aplicações e afins, mas sinto que tenho pouco apoio também.
Inclusive acabei de terminar a faculdade e vou emendar em uma pós-graduação, gosto muito de estudar e acho que isso me motiva a continuar seguindo em frente e almejando coisas melhores!