Deploy na Sexta #18: Minha primeira experiência na tecnologia
Desafios de uma mulher na tecnologia
Estava muito feliz com meu primeiro dia de aula, conquistei uma bolsa integral de estudos na graduação e tecnologia parecia uma carreira promissora. Como toda caloura, estava perdida quanto a minha sala e me atrasei para aula tentando me encontrar na universidade. Peço licença para entrar na sala de aula e a recepção do professor foi:
O curso de pedagogia é na sala ao lado, aqui é sistemas de informação.
Tudo bem, ele não estava acostumado com mulheres na turma e cometeu um engano. Neste mesmo dia, foram apresentadas a ementa da disciplina e também divisão de grupos para o projeto prático do semestre. O professor sugeriu eu poderia fazer meu trabalho sozinha, já que eu era a única mulher e por isso poderia desenvolver coisas para o universo feminino como um “catálogo de receitas”. Tudo bem, ele queria que eu trabalhasse em algo que eu me identificava e aparentemente as referências de mulheres que cercavam ele curtiam cozinhar.
Também lembro de ter muitas dúvidas, afinal eu nunca havia tido contato com tecnologia de uma perspectiva profissional. É claro que algumas vezes ele até me respondia, mas nunca esquecia de relembrar: “tinha que ser mulher para não entender o que expliquei”.
Acredito firmemente no valor e na expertise dos professores, levo eles muito a sério sempre, afinal para dar aula tu precisas ser um profissional dedicado e influente. Por isso, essas experiências me fizeram questionar: será que mulheres não tem habilidades para tecnologia? Vou me dedicar em dobro.
Apesar de inicialmente levar as observações e o tratamento diferenciado como erros inocentes ou péssimas tentativas de inclusão, não demorou muito para que a realidade das microviolências se tornasse inegável. Estas não eram simplesmente questões de mal-entendido ou de uma tentativa desajeitada de me fazer sentir acolhida em um ambiente dominado por homens. Eram, na verdade, manifestações de uma cultura que sutilmente, mas persistentemente, questionava minha competência e lugar na tecnologia simplesmente por ser mulher.
Microviolências são como gotas d'água: isoladamente, podem parecer insignificantes, mas vão acumulando até transbordar. São comentários, suposições e ações que, embora possam parecer pequenas ou até mesmo “só uma brincadeiras” para alguns, carregam um peso significativo de estereótipos, preconceitos e discriminação. No contexto da tecnologia, um campo predominantemente masculino, essas microviolências não só desestimulam as mulheres de perseguirem suas paixões, mas também questionam suas habilidades baseadas em nada além de seu gênero.
Descobri com o tempo que essas experiências não eram isoladas. Elas aconteciam com mulheres ao redor do mundo, e eram alvo de pesquisas complexas que tentavam entender o gap de gênero na tecnologia. Existem várias expressões de microviolências mapeadas em estudos e validadas com experiências de um grande grupo de mulheres. Durante meu mestrado, aprofundei e mapear toda literatura sobre essas situações e alguns termos, tenho certeza que tu já ouviu falar em algumas como: Teto de vidro, Glass Cliff, Labyrinth, Maternal Wall, Hurdles in the Pipeline, Think Manager Think Man, Old Boy Network, Mansplaining, Gaslighting, Menrupting, Bropriating. Concluí que não, não era coisa da minha cabeça.
Hey, mulher! Já passou por alguma situação em que se sentiu excluída ou deslocada no mundo da tecnologia? Lembre-se que tu não estás sozinha, e teu sentimento é completamente válido. Não vamos desenterrar situações ruins que nos abalaram na tecnologia. Se sentir a vontade deixe um comentário “Estamos juntas” para eu conhecer mais mulheres que me acompanham. Vamos nos unir nessa jornada, pois a união é um passo importante para buscar a mudança que merecemos e precisamos.
Mas como reverter esse cenário?
Sabe porque citei algumas expressões de microviolências aqui? Porque é crucial reconhecê-las pelo que realmente são: barreiras que perpetuam desigualdades e excluem a diversidade no campo da tecnologia. Reconhecê-las é um passo para combatê-las nas pequenas ações diárias. A presença de mulheres na tecnologia não é uma questão de capacidade, mas de acesso, oportunidade e um ambiente acolhedor que reconhece e valoriza a contribuição de todos, independentemente do gênero.
Superar essas barreiras não é apenas uma questão de justiça individual, mas uma necessidade para o avanço e a inovação tecnológica. A diversidade de pensamento, perspectiva e experiência é fundamental para criar soluções tecnológicas que atendam a uma ampla gama de necessidades e desafios. Por isso, é necessário que desafiamos ativamente as microviolências e cultivamos um ambiente inclusivo onde todos possam prosperar.
Diante desses desafios, é necessário lembrarmos que as mulheres não são apenas consumidoras passivas de tecnologia, mas possuem o potencial inexplorado de serem suas principais arquitetas e inovadoras. Ao longo da história, mulheres têm estado na vanguarda de inovações tecnológicas significativas, desde Ada Lovelace, reconhecida como a primeira programadora de computadores, até pioneiras modernas que moldam o futuro da inteligência artificial, da cibersegurança e do desenvolvimento sustentável. Essas conquistas não podem ser vistas como raras exceções, mas testemunhos do que é possível quando as barreiras são quebradas e o palco é compartilhado.
A tecnologia, em sua essência, é uma ferramenta para resolver problemas e transformar sociedades. Quando negamos ou limitamos a participação de metade da população nesse processo criativo, perdemos não apenas em diversidade de pensamento, mas também na riqueza de inovações que poderiam emergir de perspectivas únicas. Mulheres, com suas experiências e insights distintos, têm o poder não apenas de usar a tecnologia, mas de redefini-la, tornando-a mais inclusiva, acessível e adaptada às necessidades de uma população diversificada.
É fundamental confrontarmos as estruturas que perpetuam as microviolências e subrepresentação feminina na tecnologia. Isso significa não apenas ajustar a maneira como recrutamos e promovemos talentos, mas também como educamos, inspiramos e apoiamos a próxima geração de mulheres tecnólogas. Ao criar espaços que valorizam e cultivam a diversidade, estaremos não apenas fazendo justiça às inúmeras mulheres talentosas no campo, mas também impulsionando a inovação tecnológica para novos patamares.
Mulheres como usuárias e, mais importante, como protagonistas da tecnologia, não é uma aspiração futura, mas uma necessidade imediata. Juntas, podemos construir um futuro tecnológico onde todos, possam contribuir, criar e prosperar. Vamos nos comprometer a fazer da inclusão e da diversidade não apenas metas a serem alcançadas, mas princípios fundamentais que guiam a forma como imaginamos, desenvolvemos e aplicamos a tecnologia em nosso mundo.
🧠 Exercício da Semana
Construir resiliência diante dos desafios enfrentados foi fundamental para a minha sobrevivência individual na área. Então separei algumas estratégias para ti aplicar na vida e que podem te ajudar a desenvolver essa resiliência:
Mentorias: Buscar mentoras que possam oferecer orientação, aconselhamento e apoio. Isso pode incluir tanto mulheres quanto homens que valorizam a diversidade e vi te ajudar a aumentar a autoconfiança na jornada.
Comunidades: Participar de redes de mulheres em tecnologia, tanto online quanto presencialmente. Essas comunidades podem fornecer um espaço seguro para compartilhar experiências, aprender com os outros e encontrar solidariedade. É importante desabafar.
Encontrar e ser referência: Para aquelas que estão em posições mais estabelecidas, tornar-se um modelo visível para outras mulheres na tecnologia é poderoso. Ajuda a quebrar estereótipos e encoraja outras mulheres.
Celebrar Sucessos: Compartilhar e celebrar suas conquistas e as de outras mulheres no campo ajuda a destacar o impacto positivo das mulheres na tecnologia e pode inspirar outras a seguir um caminho semelhante.
Lembre-se a carreira é feita de altos e baixos, desenvolver resiliência é um processo contínuo que requer esforço consciente e apoio da comunidade. Tu não está sozinha!
💡 Indicações da semana
Hidden Figures: Um filme emocionante que conta um pouco da história de uma equipe de mulheres cientistas da NASA que fizeram grandes contribuições no auge da corrida espacial durante a Guerra Fria.
Bootcamp Gratuito Java: A Generation é uma ONG Global com foco em formar jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica na tecnologia e está com inscrições abertas para um bootcamp que formará desenvolvedores juniores.
Imersão Gratuita em Python: Uma oportunidade para quem quer aprimorar suas habilidades em análise de dados e aprender a usar ferramentas eficientes como Python com a Alura.
Camiseta para programadoras: Uma marca construída por mulheres, onde 70% das estampas são parcerias com movimentos, instituições e projetos sociais, que se comprometem com a inclusão das mulheres em todas as áreas de atuação do mercado de trabalho. Usa meu cupom: SPACECODING.
Eletrônicos e periféricos: Ta montando um compiuter gamer? Espia a Terabyte lá tu encontra as melhores marcas do mercado. Usa meu cupom: SPACECODING para garantir um desconto adicional nas promoções.
📅 Eventos no Radar
06/04 Global Career Summit: Evento online voltado para carreira no exterior, com recrutadores internacionais, palestras com dicas para carreira, empresas divulgando suas vagas e muito networking. Usa meu cupom SPACE15 para comprar teu ingresso.
26 e 27/03 TDC Summit: O The Developers Conference, um evento com uma mulher potente a frente, terá sua primeira edição será em São Paulo com o tema Inteligência Artificial. Para garantir 20% de desconto, no ingresso presencial usa meu cupom SPACECODING20 ou no digital SPACECODINGDIGITAL20.
Obrigada por ler até aqui. Esta edição especial do dia da mulher, foi pensada para oferecer um farol de esperança e encorajamento para aquelas que podem estar se sentindo desmotivadas ou subestimadas em seus caminhos profissionais. Cada jornada é repletas de desafios únicos, e é por isso que quero reforçar: tu não está sozinha.
Nos encontramos no próximo deploy, sexta às 6:00.
Estamos juntas! ❤️
Oi, Giulia
O link do seu mestrado está errado. Eu encontrei na Plataforma Sucupira da CAPES.