Deploy na Sexta #40: Como negociar teu salário como programador
Estratégias que aprendi após muitas frustrações.
Inicio esse artigo contando que só de ouvir as palavras “negociar salário”, começo a suar frio porque é algo super desconfortável, pra mim. Mas pior do que essa sensação é o de deixar dinheiro na mesa. Tive uma vaga uma vez, que perguntavam na entrevista a pretensão salarial. Na época, eu ganhava um salário mínimo numa escala 6x1, incluindo domingos e atuava fora da tecnologia, quando surgiu a oportunidade de um emprego com uma escala mais leve e home office, adivinha o que eu fiz? Pedi o mesmo salário mínimo, acreditando que as condições melhores já eram mais do que “suficiente” para mim.
Enquanto estava aliviada por não trabalhar aos domingos, continuava com problemas financeiros, e a longo tempo fui me frustrando ao ver colegas, com funções semelhantes, ganhando pelo menos 4x mais simplesmente porque souberam negociar.
Foi ali que comecei a entender que negociar não é sobre pedir algo "a mais", mas sobre reconhecer o próprio valor e alinhar expectativas com quem está te contratando. Desde então, venho aprendendo que cada conversa sobre salário é uma oportunidade de me valorizar e construir uma carreira mais justa para mim mesma.
Por que negociar é importante?
Pra mim, o salário é muito mais do que só o número que cai na conta no final do mês. Ele é o que define a minha qualidade de vida, o quanto eu consigo guardar pra emergências ou investir no meu futuro e, até, a base pra negociações futuras.
Sabe o que eu fazia antes? Evitava negociar. Tinha medo de parecer chata ou gananciosa, então aceitava o que a empresa oferecia sem nem questionar ou, pior, jogava minha pretensão lá embaixo, achando que assim aumentava minhas chances de ser contratada. Na minha cabeça, só o fato de estar recebendo uma oferta já era o suficiente.
O problema é que, enquanto eu tava ali cheia de receios, com medo de ser vista como "cara", a empresa tava tranquila. Pra eles, oferecer 1 ou 2 mil reais a mais no salário não fazia diferença no orçamento geral, mas, pra mim, esse valor podia fazer uma enorme diferença na vida. No fim das contas, o impacto que isso tem no custo total deles comigo é quase irrelevante. Já pra mim, significa qualidade de vida, menos estresse financeiro e até mais oportunidades de crescimento pessoal e profissional.
Agora vamos ao que interessa, minhas estratégias de negociação:
Nunca dê o número primeiro ✔
Essa é a regra de ouro. Se te perguntarem “Quanto tu espera ganhar?”, desvia com elegância. Algo como: "Pra mim, o mais importante é encontrar uma oportunidade que seja boa pra ambas as partes. Acredito que a empresa já tenha uma faixa salarial em mente pra essa posição, né?"
Por que isso é importante? Porque o primeiro número falado serve como âncora na negociação. Se tu jogares baixo, tu automaticamente limita as tuas chances de conseguir algo melhor e se jogar lá em cima, é eliminado de cara. Deixa que a empresa mostre as cartas primeiro. Assim, tu tens mais espaço pra avaliar e negociar de forma estratégica.
Pesquisa é tua melhor amiga ✔
Antes de qualquer entrevista, pesquisa bem sobre a faixa salarial pra tua posição e região. Dá uma olhada em sites como Glassdoor, Level.fyi ou até o Linkedin. Se tiveres a oportunidade, conversa com colegas da área para entender como tá o mercado. Saber o valor médio da tua função te dá muito mais segurança na hora de argumentar.
Mas não para por aí: o salário é só uma parte do pacote. Benefícios como férias, home office, bônus, horário flexível, vale-refeição e até suporte para cursos ou certificações podem pesar tanto quanto (ou até mais) do que o número final. Por isso, já vai pra conversa sabendo o que é importante para ti além do valor bruto. Assim, tu consegues construir um acordo que realmente faça sentido para tua vida.
Mostra teu valor, não teu desespero ✔
Nunca vai pra negociação com a postura de quem “precisa muito dessa vaga”. Isso só joga contra ti. Em vez disso, foca no que tu tens a oferecer e no impacto que já geraste antes. Mostra resultados concretos, como: "No meu último projeto, aumentei a conversão do site em 15%, o que trouxe um impacto direto na receita da empresa."
Quando tu conectas o teu trabalho a resultados palpáveis e mensuráveis, fica muito mais fácil justificar um salário acima da média. Não é só sobre o que tu queres, é sobre o valor que tu agregas e o quanto a empresa também vai ganhar contigo a bordo. Essa mudança de perspectiva transforma a conversa e reforça tua posição como uma profissional que entrega resultados.
Se tu nunca trabalhaste na área, não tem problema. Destaca tuas habilidades, projetos pessoais, cursos, ou até mesmo trabalhos acadêmicos que demonstrem teu potencial. Logo que me formei, fazia questão de carregar meu TCC comigo no portfólio. Eu costumava apresentar assim: "No meu projeto de conclusão de curso, desenvolvi um sistema com um frontend responsivo para dispositivos móveis, integrado a um backend que utilizava inteligência artificial para auxiliar na tomada de decisões."
Era minha forma de mostrar que, mesmo sem experiência formal, eu já tinha aplicado conceitos avançados e criado algo que conectava tecnologia moderna com usabilidade prática. Inclusive se não tens graduação, fale sobre os cursos: "Tenho estudado bastante sobre [tecnologia X] e desenvolvi projetos pessoais onde consegui aplicar essas habilidades na prática, como [descreve brevemente o que fizeste]."
O importante é mostrar que tu estás preparado pra gerar valor e que a empresa pode confiar no teu potencial. Assim, mesmo sem experiência formal, tu mostras iniciativa e competência.
Use o silêncio como arma ✔
O silêncio pode parecer desconfortável, mas é uma ferramenta poderosa. Depois de fazer teu pedido ou tua contraproposta, simplesmente cala a boca e espere pela resposta. Dá tempo para outra pessoa processar o que foi dito.
Na maioria das vezes, o desconforto gerado pelo silêncio faz o outro lado querer quebrá-lo primeiro. E, quando isso acontece, é comum que cedam ou tragam uma proposta mais favorável pra ti. Não te apressa a justificar ou preencher o vazio com mais argumentos. Faz teu pedido com confiança e deixa o silêncio trabalhar por ti.
Em casos de negociação via e-mail, o tempo ideal para dar chamar retomar o contato depende do contexto, mas recomendo 2 a 3 dias úteis no máximo. Nesses casos escrevo algo como: "Gostaria de saber se houve algum avanço em relação à proposta que enviei na [data]. Estou à disposição para esclarecer qualquer ponto ou conversar mais sobre os detalhes. Obrigado pela atenção e aguardo a resposta".
Mostrar disponibilidade sem pressão é importante porque, durante uma negociação, o equilíbrio entre interesse e profissionalismo conta muito. Demonstrar que tu estás disponível para esclarecer dúvidas ou ajustar pontos evita que a negociação esfrie, mas sem insistir ou parecer ansioso.
Além de tudo isso, pedir feedback mesmo em caso de não aprovação é uma estratégia inteligente. Tanto para validar teus valores, mas também para aproveitar uma oportunidade para aprender e crescer como profissional.
Explora todas as dimensões do acordo ✔
Se o salário em si não for negociável, ainda existem várias maneiras de tornar o acordo mais interessante. Por exemplo, tu podes propor alguns dias de folga adicionais além do padrão, especialmente se valorizas mais tempo livre para descansar ou cuidar de projetos pessoais. Outra possibilidade é sugerir a inclusão de um bônus por desempenho, criando um incentivo mútuo: tu entregas resultados concretos, e a empresa te recompensa financeiramente por isso.
Também vale a pena considerar suporte para cursos ou certificações. Educação é um investimento que beneficia tanto a ti quanto a empresa, então pedir apoio para treinamentos ou certificações — ou até mesmo reservar tempo dentro do expediente para estudar e evoluir — pode ser uma ótima alternativa. Além disso, explora outros benefícios, como um plano de saúde mais abrangente, previdência privada, horários flexíveis, trabalho remoto ou até mesmo melhores equipamentos para tua rotina. Assim, mesmo que o salário não seja exatamente o que esperavas, podes construir um pacote que valorize teu bem-estar e desenvolvimento profissional.
No final, o objetivo é construir um pacote que te deixe satisfeito, mesmo que o salário em si não atinja tua expectativa inicial. Mostra abertura pra conversar e criatividade nas soluções. Isso te ajuda a maximizar o valor do acordo sem prejudicar tua relação com a empresa.
Para fechar, deixo uma grande dica: trate a negociação como uma conversa, não como um conflito. O objetivo é achar um meio-termo onde todo mundo saia ganhando. Vai com calma, te prepara e lembra: se tu não te valorizar, quem vai?
💡 Indicações da semana
“Nossas impurezas não são fraquezas; na realidade, são justamente elas que nos fazem mais fortes”. Esse é o ponto central dessa animação, que acompanha Mizu - espadachim de olhos azuis - em sua jornada de vingança contra os homens que amaldiçoaram sua vida. Sem dar spoilers, posso dizer que vale muito a pena assistir, pois os protagonistas lutam pelo controle de seus destinos e pela liberdade de escolherem seu próprio caminho.
📘 A edição de hoje foi inspirada no artigo Salary Negotiation: Make More Money, Be More Valued, de Patrick McKenzie. Recomendo muito a leitura completa, pois o artigo oferece insights ainda mais profundos e detalhados do que os apresentados aqui.
📜 Quinzenalmente faço curadoria de oportunidades de capacitação gratuita em tecnologia, vagas de tecnologia, e eventos de tecnologia, então fique de olho nas postagens que eu solto pelo meu perfil do Linkedin.
🤓 Túnel do tempo
No túnel de hoje, relembramos o lançamento do Bluetooth. O desenvolvimento da tecnologia foi liderado pela Ericsson, que, em 1998, fundou o Bluetooth Special Interest Group (SIG) junto com outras empresas como IBM, Nokia, Intel e Toshiba. Nessa época o Bluetooth começou a se estabelecer como uma tecnologia promissora para comunicação sem fio em curto alcance, criando as bases para conexões de dispositivos que hoje consideramos essenciais, como fones de ouvido, teclados e outros acessórios.
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Falhei nos últimos deploys porque acabei pegando influenza e passei duas semanas mal. Então, fica aqui o lembrete: se agasalhem e cuidem bem da saúde! Nos encontramos no próximo deploy, sexta-feira às 6:00. 🖖