Deploy na Sexta #46: E se tentar ser a tua melhor versão for o que está te esgotando?
O problema não é aprender, é nunca se sentir suficiente
A educação mudou minha vida. Se hoje tenho um bom emprego, devo isso ao motivo de nunca parar de aprender. Na área de tecnologia, cada passo na minha carreira veio de uma atualização – um novo framework que aprendi e fui promovida, linguagens, metodologias ágeis, tendências.
Mas, ao mesmo tempo, a sensação de que sempre falta algo é real. Sempre tem uma ferramenta nova para dominar, um conceito que ainda não entendi direito, uma habilidade que parece indispensável. Estudar e evoluir faz parte do jogo, mas também pode virar uma armadilha mental: aquela pressão constante de que nunca sei o suficiente, de que preciso aprender mais, produzir mais, ser mais. E é aí que mora o burnout do autoaperfeiçoamento – o tema da conversa de hoje.
No início do ano passado, eu ainda estava na pira de precisava estar sempre aprendendo algo novo – um framework recém-lançado ou uma nova linguagem. Só que, ao invés de me sentir motivada como sempre, comecei a perceber alguns sinais estranhos.
Mesmo nos dias em que minha carga de trabalho não era tão pesada, eu me sentia esgotada. Abria um curso online e simplesmente não conseguia focar. Começava a ler a documentação de uma ferramenta nova e minha mente desligava, como se meu cérebro se recusasse a absorver informações. Passei a procrastinar coisas que antes me animavam, adiando projetos porque tinha medo de “não aprender direito”. E quando finalmente sentava para estudar, vinha aquela frustração: a sensação de que nunca era o bastante, de que eu deveria estar aprendendo mais rápido, sabendo mais coisas.
O pior é que, quanto mais pressionada eu me sentia, mais difícil era realmente aprender. O que antes era empolgante virou uma obrigação exaustiva. O prazer de estudar deu lugar à ansiedade de estar sempre correndo atrás, tentando acompanhar um mercado que nunca para.
Por muito tempo, acreditei que, para ter sucesso na tecnologia, eu precisava estar sempre no topo. Não bastava apenas ser boa no que eu fazia – eu tinha que ser excelente, estar atualizada com todas as novas tendências, aprender rápido e dominar tudo o que o mercado considerava essencial.
O problema é que o próprio mercado manda sinais contraditórios. Ao mesmo tempo em que exigem senioridade rápida em diversas ferramentas, também esperam experiência de longo prazo utilizando-as. Parece que só quem já sabe tudo consegue crescer, e isso cria uma ilusão perigosa: a de que, se eu não sou a melhor, então não sou bom o suficiente.
Toda essa pressão, que por muitos anos me impulsionou, agora me paralisa. Ao invés de ver o progresso que já fiz, só enxergo o que ainda falta. E levei um tempo para perceber que nem tudo precisa ser uma performance. Sempre vi o aprendizado como um meio para um fim – estudar para crescer na carreira, para me tornar mais eficiente, para alcançar objetivos cada vez maiores.
Quando o aprendizado tem espaço para ser só aprendizado? 🖖
Quando percebi que estava entrando no burnout do autoaperfeiçoamento, comecei a aprender coisas nem um pouco relacionadas ao trabalho: tocar bateria, costurar, dançar. E, pela primeira vez em muito tempo, me permiti ser ruim em algo sem sentir culpa.
Não fico horas treinando para atingir a perfeição, não tento acelerar meu progresso, não transformo isso em mais uma meta a ser cumprida. Simplesmente aproveito. E, curiosamente, isso me trouxe um alívio enorme – um lembrete de que nem tudo na vida precisa ser uma corrida.
Querer crescer é ótimo. O problema não está em querer evoluir, mas em transformar isso numa obrigação sem fim. Quando o autoaperfeiçoamento vira um peso, deixa de ser um caminho saudável de crescimento e se torna uma fonte de ansiedade, frustração e exaustão.
Aprender sempre será parte de quem sou. Mas isso não significa que preciso viver presa à ideia de ser minha melhor versão o tempo todo. Às vezes, evoluir também é aceitar que posso ir ao meu ritmo, sem transformar cada aprendizado em mais uma cobrança. Porque, no fim, o verdadeiro progresso não é uma linha reta – ele acontece entre pausas, entre tentativas e erros, entre momentos de descanso.
💡 Indicações da semana
A dica de hoje é a mini série Cassandra, na Netflix. Nela encontramos alguns elementos de ficção científica em um drama sobre uma IA que administra uma casa super-inteligente que ficou 50 anos abandonada. Nem precisaria dizer mas, claramente dá tudo errado para os novos moradores da casa.
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Essa edição da newsletter levou 04:30 minutos para ficar pronta. Quase uma sessão de terapia né? Obrigada por ler até aqui. Se já tiver passado por algo semelhante compartilha com a gente, é sempre bom saber que não estamos sozinhos nos surtos.
Nos encontramos no próximo deploy, sexta-feira às 6:00. 🖖
Aprecio muito o seu deploy na sexta